A idade dos
personagens bíblicos tem deixado muitas pessoas intrigadas, porque são tentadas
a pensar que os homens não viveram tanto tempo como a Bíblia diz e isso se deve
a falácia de que a forma de contar os anos era diferente da nossa e também de
que era impossível alguém viver centenas de anos. Longe de mim está a tentativa
de esgotar o assunto, mas a meu ver nenhuma das duas é consistente o suficiente
para dar-lhes crédito. Dessa forma, tecerei alguns comentários e enfocarei o
assunto sob o ponto de vista bíblico literal.
Não podemos esquecer
que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26), e o propósito de
Deus, era que o homem vivesse eternamente à partir do sopro de vida sobre Adão
formado do pó da terra (Gn 2:7). Colocou-o no Jardim do Éden e deu-lhe a
seguinte ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás (Gn 2:16-17). Em que pese o homem ter desobedecido a Deus,
enganado que foi por Satanás, não morreu no dia em que pecou conforme estava
ordenado literalmente no texto. Ocorre que para Deus mil anos são como o dia de
ontem que passou, e como uma vigília da noite (Salmo 90:4). O apóstolo Pedro em
sua Segunda Epístola, chama à atenção para este fato dizendo: - “Há, todavia,
uma coisa, amados, que não devemos esquecer: que, para o Senhor, um dia é
como mil anos, e mil anos, como um dia” (II Pe 3:8). Como nenhum dos
personagens bíblicos viveu mais de mil anos, deduzimos naturalmente que o homem
morreu realmente no mesmo dia em que pecou. A existência humana que
inicialmente estava prevista para ser eterna sobre a terra, perdeu este
privilégio, por causa do pecado. Agora, tanto homem quanto mulher, estavam
destinados a ter a vida terrena de modo passageiro. Quer dizer: - “no dia em
que dela comeres, certamente morrerás”, não se cumpriu de imediato e
literalmente, mas a morte passou a existir e a vida do ser humano passou a ser
passageira na terra.
Nos primórdios, o
homem vivia muito mais e acreditamos que fatores climáticos; qualidade de vida;
inexistência de doenças; e necessidade de um mundo habitado postergava a vida.
Acrescente-se a esses fatores o desejo de Deus por um mundo habitado: - “...
Sede fecundos multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a”. (Gn 1:28). E, o
envolvimento direto que os primeiros seres humanos tiveram com Deus. Tudo isso
fazia com que a vida dos primeiros homens fosse centenária. Deus falava e
conversava com muitos deles. Primeiro com Adão, depois com Caim, com Noé,
Abraão, Isaque, Jacó, Moises e com os profetas. Deus falava e os ouvia. Deus na
sua misericórdia e na sua soberania aprouve dar centenas de anos de vida aos
primeiros homens, com o propósito de colocar em prática o projeto de
salvação.
Os personagens
bíblicos viveram conforme está descrito literalmente nos textos. Não podemos
dar tratamento diferente ou imaginarmos que a contagem dos anos era diferente
da de nossos dias. É evidente que o nosso calendário é diferente, mas o tempo
contado é o mesmo. Não podemos diferenciar tempos de idades dentro de um mesmo
livro da Bíblia. Dentro de livros diferentes no Antigo Testamento nem no Novo
Testamento. Nem ser tentado a imaginar, que com o decorrer do tempo em épocas
diferentes a contagem teria sido diferente. Não temos argumentos para
contrariar a forma de contar os anos de vida dos personagens bíblicos nos
quatro mil anos que decorreram entre Adão e Jesus, usando dois pesos ou duas
medidas. Vamos encontrar na Bíblia personagens que viveram muito e personagens
que viveram pouco.
Já vi, argumento do
tipo que dizia que no mínimo a idade dos personagens bíblicos deveria ser
dividida por dez. Simplesmente um engano e uma contradição. Se assim o fosse,
como ficaríamos no texto em que Sara esposa de Abraão é considerada velha para
ter um filho? Vejamos: Sara tinha noventa anos e foi considerada velha (Gn
17:17). Perfeito. Se dividíssemos a sua idade por dez, ela teria nove anos.
Nove anos! Simplesmente uma criança e não uma velha. Logo, concluímos que Sara
tinha a idade que a Bíblia relata. E ela era de idade avançada mesmo. Ela tinha
noventa anos. Abrimos aqui um parêntese, para dizermos que não estamos
questionando a sua capacidade de gerar um filho aos noventa anos. Deus em sua
soberania o prometeu e o cumpriu. Ora, o que Sara imaginou ser impossível, Deus
o fez possível e ela deu à luz a Isaque Estamos questionando apenas a
idéia de dividirem-se as idades por dez, o que é absolutamente inconsistente.
No mesmo texto, lemos que Abraão contava com cem anos. Se dividíssemos a sua
idade por dez, acharíamos 10 anos. Logo, Abraão seria uma criança e não um
ancião como foi a sua alegação na oportunidade.
Recentemente, a mídia
divulgou, que na Índia, uma senhora de setenta e dois anos de idade deu à luz a
um filho e estava passando bem. Ora, já se passaram dezenas e dezenas de
séculos depois de Sara, no entanto vemos uma anciã procriando. Isso só
corrobora para reforçar os argumentos de que não era impossível termos homens
vivendo tantos anos e mulheres procriando a semelhança do que lemos nos textos
bíblicos.
No presente século,
muitas e muitas pessoas viveram e estão vivendo acima dos cem anos de idade.
Isto significa quase quinze por cento to tempo de vida para os personagens
bíblicos, que viveram em torno de novecentos anos. O que é compreensível,
partindo-se do ponto de vista de que houve perda da qualidade de vida motivada
por doenças, maus hábitos alimentares, vícios, etc. Através dos séculos que nos
separam dos homens centenários. Quero dizer que através dos séculos os homens
diminuíram vertiginosamente o seu tempo de vida. Houve épocas como na idade
média que este tempo de vida foi ainda menor, por causa de guerras, conflitos,
doenças etc. Hoje já se fala em uma maior expectativa de vida em decorrência da
busca incessante da ciência por qualidade de vida que possa resultar em maior
tempo de existência do homem, ao que se tem chamado de longevidade.
Recentemente, a mídia divulgou que os cientistas chegaram à conclusão de que é
possível ao homem chegar a viver em torno de duzentos anos, desde que
conte com condições favoráveis desde o início de suas vidas. Obedecendo a
determinados padrões de qualidade de vida etc. Esta possibilidade em nossos
dias guarda coerência com a existência centenária de vida que foi possível ao
homem nos primórdios.
Nos Salmos 90:10 Davi
diz: - “A duração da nossa vida é de setenta anos; e se alguns, pela sua
robustez, chegam há oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado; pois
passa rapidamente, e nós voamos sobre a idade do homem.”. Isto há cerca
de quatro mil anos. Na verdade não mudou muito através dos séculos até
nossos dias, estamos mais ou menos na mesma situação a partir do escrito de
Davi.
A forma de contar os
anos guardou coerência entre as informações constante nos textos e em livros
bíblicos diferentes.
Em Gn 5:3. Temos que:
- “Adão [viveu] cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança,
conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.
Em Gn 5:5 “Todos os
dias que Adão [viveu] foram novecentos e trinta anos; e morreu.”
Em Gn 5:6 “Sete
[viveu] cento e cinco anos, e gerou a Enos”. Sendo que: “Todos os dias de Sete
foram novecentos e doze anos; e [morreu]” (Gn
5:8).
Em Gn 5:9 “Enos
[viveu] noventa anos, e gerou a Quenã”, sendo que:” [Viveu] Enos, depois que
gerou a Quenã, oitocentos e quinze anos; e gerou filhos e filhas. Gn 5:11
“Todos os dias de Enos foram novecentos e cinco anos; e [morreu]”.
Em Gn 5:12 “Quenã
[viveu] setenta anos, e gerou a Maalalel. Sendo que: “Todos os dias de Quenã
foram novecentos e dez anos; e [morreu]” (Gn
5:14).
Em Gn 5:15 “Maalalel
[viveu] sessenta e cinco anos, e gerou a Jarede. Sendo que: “Todos os dias de
Maalalel foram oitocentos e noventa e cinco anos; e [morreu]”, (Gn
5:17).
Em Gn 5:18 “Jarede
[viveu] cento e sessenta e dois anos, e gerou a Enoque”. Sendo que: “Todos os
dias de Jarede foram novecentos e sessenta e dois anos; e [morreu]”. (Gn
5:20)
Em Gn 5:21 “Enoque
[viveu] sessenta e cinco anos, e gerou a Matusalém
Em Gn 5:22 “Andou
Enoque com Deus; e, depois que gerou a Matusalém, viveu trezentos anos; e teve
filhos e filhas”.
Em Gn 5:23 “Todos os
dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos”. A Bíblia não diz
que este homem morreu. Mas, diz que ele andou com Deus e já não era, porque
Deus o tomou para si (Gn 5:24). Por isso no meio desta genealogia em que todos
estavam vivendo acima de novecentos anos, Enoque viveu cerca de um terço da
idade dos demais, porque Deus para si o tomou e ele não morreu. Em continuação,
temos:
Em Gn 5:25 “Matusalém
[viveu] cento e oitenta e sete anos, e gerou a Lameque”. Sendo que: “Todos os
dias de Matusalém foram novecentos e sessenta e nove anos; e [morreu]” (Gn
5:27).
Em Gn 5:28 “Lameque
[viveu] cento e oitenta e dois anos, e gerou um filho.”
Em Gn 5:31 “Todos os
dias de Lameque foram setecentos e setenta e sete anos; e [morreu].
Em Gn 9:29 “E foram todos os dias de Noé novecentos e cinqüenta anos; e [morreu]”.
A partir daqui o
texto suspendeu o relato de “...e foram todos os dias...”, por isso não teremos o total dos anos de vida dos personagens seguintes,
a saber:
Em Gn 11:11 “E
[viveu] Sem, depois que gerou a Arfaxade, quinhentos anos; e gerou filhos e
filhas”.
Gn 11:12 Arfaxade
[viveu] trinta e cinco anos, e gerou a Selá.
Gn 11:14 Selá [viveu]
trinta anos, e gerou a Eber.
Gn 11:16 Eber [viveu]
trinta e quatro anos, e gerou a Pelegue.
Gn 11:18 Pelegue
[viveu] trinta anos, e gerou a Reú.
Gn 11:20 Reú [viveu]
trinta e dois anos, e gerou a Serugue.
Gn 11:22 Serugue
[viveu] trinta anos, e gerou a Naor.
Gn 11:24 Naor [viveu]
vinte e nove anos, e gerou a Tera.
Gn 11:26 Tera [viveu]
setenta anos, e gerou a Abrão, a Naor e a Harã.
A seguir o texto
bíblico passou a descrever novamente o total de anos vivido pelos personagens,
que passou a ser bem menor que os anteriores, assim:
Em Gn 11:32 “Foram os dias de Tera duzentos e cinco anos; e [morreu] Tera em Harã.”
Em Gn 25.7 “Estes,
pois, são os dias dos anos da vida de Abraão, que ele [viveu]: cento e setenta
e, cinco anos.”
Depois que gerou a
Isaque, Abraão viveu mais 75 anos.
Gn 47:28 “E Jacó
[viveu] na terra do Egito dezessete anos; de modo que os dias
de Jacó, os anos da sua vida, foram cento e quarenta e sete anos.”
Gn 50:26 “Assim [morreu] José, tendo cento e dez anos de idade; e o embalsamaram e
o puseram num caixão no Egito”.
Números 33:39 “E
Arão tinha cento e vinte e três anos de idade, quando [morreu] no monte Hor.”
Deuteronômio 34:7 “Tinha
Moisés cento e vinte anos quando [morreu]; não se lhe escurecera a vista,
nem se lhe fugira o vigor.”
Josué 24:29 “Depois
destas coisas Josué, filho de Num, servo do Senhor,
[morreu], tendo cento e dez anos de idade;”
Nesta genealogia,
apresentada nos livros mencionados, os anos das idades de existência dos
personagens bíblicos, decresceram através dos séculos. Assim, Matusalém, um dos
primeiros na genealogia viveu novecentos e sessenta e nove anos (Gn 5:27).
A partir do dilúvio a
expectativa de vida dos personagens caiu para menos que duzentos anos. Noé foi
o último a viver mais de novecentos anos.
Pelo exposto não
podemos atribuir interpretações diferentes para o tempo de existência dos
personagens bíblicos. É o Gênesis que narra às idades acima de novecentos anos.
É no Gênesis que Sara tem noventa anos quando engravida tendo Abraão cem anos.
É no Gênesis que os descendentes de Noé passam a viver menos de duzentos anos.
Na verdade, mais próximo de cem anos do que de duzentos propriamente ditos. Nas
narrativas dos cinco Livros da Lei ou Pentateuco, constatamos coerentemente que
os homens tiveram literalmente os anos de vida que a Bíblia diz ter. Não
poderíamos jamais dar interpretações diferentes para a forma de contar os anos,
quer pareçam muito ou pouco e jamais dividi-los para adequá-los a nossa
cosmovisão atual.
Pelos dados dos
últimos textos mencionados, as idades dos personagens já se achavam bastantes
próximas das que vimos em nossos dias: José, Arão, Moisés e Josué viveram
entre cento e dez e cento e vinte e três anos.
O último relato
bíblico a cerca da idade total de um de seus personagens é a de Josué que viveu
cento e dez anos (Josué 24:29). A partir daí é omitido este tipo de informação
no restante dos livros tanto no Antigo, como no Novo Testamento.
Há muitas outras
passagens a respeito de tempos em anos mencionados no Antigo Testamento,
mormente com relação aos tempos de governo dos Reis e outros, que não seria
necessário recorrerem para reforçar o nosso argumento, porque chegaríamos às
mesmas conclusões. Os tempos relativos às idades dos personagens bíblicos são
ricos em informações e relatos que foram suficientes para darmos luz ao
assunto. Para tanto, bastou à observância da genealogia dos primeiros
personagens e a coerência com as demais citações dentro da Bíblia,
principalmente no Antigo Testamento.
Fonte: Augusto Bello de Souza Filho - Bacharel em Teologia
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