quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A experiência de Deus no deserto


Muita coisa tem sido dita sobre deserto espiritual no nosso meio, mesmo assim fica a dúvida sobre o lugar dessa experiência na vida cristã. O deserto é uma exceção na vida com Deus ou algo que todos teremos de passar? Antes de responder esta pergunta, vamos olhar o deserto na Bíblia: não foram poucos os personagens bíblicos que passaram pela experiência de Deus no deserto, muitos homens e mulheres viveram a terrível sensação de ausência ou do silêncio de Deus: Elias viveu a amargura do medo e da frustração no deserto; Moisés passou 40 anos acreditando que nada mais iria acontecer na sua trajetória como libertador; Jó viveu na carne a experiência de se sentir abandonado por Deus; e Jesus, do alto da cruz, deu um brado: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Além desses relatos, na nossa própria caminhada cristã, passamos, muitas vezes, por essa sensação de abandono, perdemos o sabor da vida, o que nos alegrava passa a não alegrar mais, a música, o sermão, a leitura da palavra e a oração, tudo parece sem sentido e estafante. Esses sintomas podem surgir em vários momentos da nossa vida, talvez por causa do cansaço físico e mental, uma doença, o fim de um relacionamento amoroso, estresse e tantos outros motivos. Mas o deserto espiritual tem algumas particularidades.

Na solidão do deserto o nosso coração de pedra se transforma em carne, o coração fechado se abre a todos os sofredores num gesto de amor e solidariedade. Mas, olhando de longe os inúmeros acontecimentos que atingem uma pessoa no deserto, sentimo-nos compelidos a fugir dele. Vivemos com se nenhum mal fosse nos atingir, e incorporamos palavras de ordem, que dizem: “somos filhos do Rei”, “ora que melhora”, e falamos com a força dos nossos pulmões: “tudo posso naquele que me fortalece”. Nada disso é mentira, no entanto, quando nos vemos em apuros, essas frases passam a não fazer mais sentido e algumas coisas acontecem: ou nos sentimos abandonados por Deus ou pensamos que os nossos pecados nos afastaram dele. Lembremos de Jó: não foi o seu pecado o responsável pelo seu sofrimento.

Mas parece que a experiência do patriarca nos traz ainda mais angústias: não nos sentimos a altura dele e por isso achamos que todo o nosso sofrimento é resultado dos nossos pecados.

Perguntamo-nos: onde eu errei? O que eu fiz para merecer tamanho castigo? Sentimo-nos abandonados. Achamos que nos perdemos de Deus e que já não somos mais objeto do seu amor.

Queremos viver somente alegrias, mas não podemos evitar, quando menos esperamos experimentamos uma aridez espiritual e concluímos que o que está nos acontecendo é o que muitos chamam de deserto. Os pais do deserto, pelo menos, fizeram esta escolha livremente, mas a nós parece que essa opção não é dada. Para os contemplativos, no entanto, a experiência do deserto deve ser recebida com agrado, do mesmo modo que uma pessoa enferma receberia com bons olhos a noticia de uma cirurgia que promete saúde e bem-estar. Isso não que dizer que o cristão deva ser alguém que sai pelo mundo em busca do desprazer e de desgraças, não é sobre isso que estamos falamos. O que queremos dizer é que na caminhada com Deus vamos experimentar sensações de abandono, dores e fracassos, e isso não tem nada a ver com os nossos pecados. Não foi assim com Ana, Jó, Paulo e tantos outros?

Mas, como conciliar o deserto com um conceito de espiritualidade que não tem lugar para dor e o sofrimento? Como conciliar a imagem de uma vida próspera e abençoada com a experiência do silêncio de Deus?

Na vida contemplativa, o deserto sempre teve o seu lugar. Nos primeiros séculos da Era Cristã, muitos homens e mulheres foram literalmente para o deserto em busca de um encontro com Deus através da solidão, do silêncio e da oração. Antão, Agatão, Macário, Poemem, Teodora, Sara e Sinclética foram líderes espirituais no deserto. “Sem esse deserto, perdemos nossa alma enquanto pregamos o evangelho”. Todos os contemplativos viveram a realidade do Deus Absconditus*, mas foi João da Cruz, monge carmelita do século XVI, quem desenvolveu uma tradição contemplativa sobre a noite escura da alma, ou noite dos sentidos. Quando vires teus desejos apagados, tuas afeições na aridez e angústias, e tuas faculdades incapazes de qualquer exercício interior, não sofram por isso; considera-te feliz por estares assim. É Deus que te vai livrando de ti mesmo, e tirando-te das mãos todas as coisas que possuis.

Na noite dos sentidos, somos convidados a sermos todos de Deus. Nesta vida, o homem não se une a Deus por meio daquilo que entende, goza ou imagina, nem por alguma coisa que os sentidos ofereçam; mas unicamente pela fé... Somos chamados a experimentar o silêncio de amor, a nos calarmos diante do inefável, e a pormos a atenção amorosamente em Deus, sem ambição de querer sentir ou entender coisa alguma particular a seu respeito. Na noite escura dos sentidos, somos convidados à comunhão da dor de Cristo. De acordo com o teólogo alemão Jürgen Moltmann, no centro da fé cristã está à história da Paixão de Cristo. No centro dessa paixão está a experiência de Cristo abandonado por Deus. Pare ele, ou isso representa a ruína da fé humana no criador, ou o surgimento de uma Fé em Deus que não é possível de ser destruída por nada. Não mais uma fé que dependa de resultados, de sentir calafrios, que dependa da emoção, não mais uma fé que precisa de formulações inquestionáveis, mas uma fé descansada, porque o amor não cansa e nem se cansa. Uma fé que se abandona nas mãos de Deus e se deixa levar por ele. A experiência de Deus no deserto é a experiência do despojamento que nos leva a amar a Deus sobre todas as coisas, mesmo diante da dor e do sofrimento. Por que Deus permite o sofrimento não sabemos, mas, para Multmann, mesmo que soubéssemos isso não nos ajudaria a viver. Se descobrirmos, no entanto, onde está Deus e experimentarmos sua presença no nosso sofrer, encontrar-nos-emos na fonte de onde brota a vida novamente.

Na noite escura, aprendemos a amar a Deus por ele mesmo, não por aquilo que ele pode fazer ou deixar de fazer por nós. Lá, nada faz sentido, e é no sem sentido que encontramos a verdadeira paz. Profunda é a luta na noite contemplativa, mas é igualmente muito profunda a paz que se espera. E, se a dor espiritual é intima e penetrante, o amor que se há de alcançar é também íntimo e puro.
=O sofrimento e a dor não devem ser entendidos, neste sentido, como resultado do nosso afastamento de Deus, muito pelo contrário, podemos nos sentir amados mesmo diante da dor e da aflição. Mas é muito difícil perceber o amor de Deus diante do sofrimento e da aridez espiritual, porque estamos comprometidos com uma falsa ilusão do que seja esse amor por nós. Coisificamos o nosso amor por Deus, só nos sentimos amados quando a nossa vontade é satisfeita. Se as nossas orações não são respondidas, pensamos que Deus não nos ama. Se não nos emocionamos no culto é porque falta unção, dependemos dos resultados para experimentamos Deus. No deserto, somos privados de tudo, dos resultados e da emoção, só restam dúvidas, é aí, que o conceito de Hebreus, começa a fazer sentido, a Fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem (Hebreus 11:1). Na noite escura, ficamos livres da nossa excessiva dependência de resultados interiores e exteriores lá nada acontecem só Deus basta

Nesta noite escura, aprendemos a nos despojar de uma falsa imagem de Deus, o Deus que era o nosso provedor, passa ser também o consolador, o Deus que servia apenas de alívio para as nossas neuroses do cotidiano, passa ser o nosso companheiro de amor. Na noite escura, tudo muda. Aqui temos um verdadeiro encontro de amor, onde nada mais é importante. Se formos abandonados, amamos assim mesmo, se nossas orações não são respondidas, não deixamos de amar por causa disso.
Nesta noite dos sentidos, mesmo sem sentir, somos transformados. O progresso da pessoa é maior quando ela caminha às escuras e sem saber. Aprendemos a amar a Deus como ele deseja ser amado. É amar sem querer possuir o objeto do nosso amor, é amar sem reduzir a Deus a uma idéia ou a uma lâmpada de Aladim. É amar uma pessoa, que misteriosamente é três.

Sobre a pergunta: o Deserto é uma exceção na vida com Deus ou algo que todos teremos de passar? Podemos respondê-la da seguinte maneira: talvez, nem todos os cristãos passem pelo deserto, mas todos aqueles que passarem irão experimentar a purificação dos sentidos. Para a pessoa crescer na contemplação até chegar á união com Deus, deverão ficar de lado, em silêncio, todos os meios e exercícios sensíveis das faculdades humanas. Só assim poderá o Senhor infundir nelas o sobrenatural, pois a capacidade natural não consegue chegar tão alto. Aqui entendemos que só podemos encontrar Deus no silêncio, na solidão e na oração. O nosso objeto de desejo é livre para ir e vir, quando desejar. Não ficamos tão dependentes de sentir a sua presença. Já sabemos onde ele está.

A idade dos personagens bíblicos


A idade dos personagens bíblicos tem deixado muitas pessoas intrigadas, porque são tentadas a pensar que os homens não viveram tanto tempo como a Bíblia diz e isso se deve a falácia de que a forma de contar os anos era diferente da nossa e também de que era impossível alguém viver centenas de anos. Longe de mim está a tentativa de esgotar o assunto, mas a meu ver nenhuma das duas é consistente o suficiente para dar-lhes crédito. Dessa forma, tecerei alguns comentários e enfocarei o assunto sob o ponto de vista bíblico literal.

Não podemos esquecer que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26), e o propósito de Deus, era que o homem vivesse eternamente à partir do sopro de vida sobre Adão formado do pó da terra (Gn 2:7). Colocou-o no Jardim do Éden e deu-lhe a seguinte ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2:16-17). Em que pese o homem ter desobedecido a Deus, enganado que foi por Satanás, não morreu no dia em que pecou conforme estava ordenado literalmente no texto. Ocorre que para Deus mil anos são como o dia de ontem que passou, e como uma vigília da noite (Salmo 90:4). O apóstolo Pedro em sua Segunda Epístola, chama à atenção para este fato dizendo: - “Há, todavia, uma coisa, amados, que não devemos esquecer: que, para  o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (II Pe 3:8). Como nenhum dos personagens bíblicos viveu mais de mil anos, deduzimos naturalmente que o homem morreu realmente no mesmo dia em que pecou. A existência humana que inicialmente estava prevista para ser eterna sobre a terra, perdeu este privilégio, por causa do pecado. Agora, tanto homem quanto mulher, estavam destinados a ter a vida terrena de modo passageiro. Quer dizer: - “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”, não se cumpriu de imediato e literalmente, mas a morte passou a existir e a vida do ser humano passou a ser passageira na terra.

Nos primórdios, o homem vivia muito mais e acreditamos que fatores climáticos; qualidade de vida; inexistência de doenças; e necessidade de um mundo habitado postergava a vida. Acrescente-se  a esses fatores o desejo de Deus por um mundo habitado: - “... Sede fecundos multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a”. (Gn 1:28). E, o envolvimento direto que os primeiros seres humanos tiveram com Deus. Tudo isso fazia com que a vida dos primeiros homens fosse centenária. Deus falava e conversava com muitos deles. Primeiro com Adão, depois com Caim, com Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moises e com os profetas. Deus falava e os ouvia. Deus na sua misericórdia e na sua soberania aprouve dar centenas de anos de vida aos primeiros homens, com o propósito de colocar em prática o projeto de salvação. 

Os personagens bíblicos viveram conforme está descrito literalmente nos textos. Não podemos dar tratamento diferente ou imaginarmos que a contagem dos anos era diferente da de nossos dias. É evidente que o nosso calendário é diferente, mas o tempo contado é o mesmo. Não podemos diferenciar tempos de idades dentro de um mesmo livro da Bíblia. Dentro de livros diferentes no Antigo Testamento nem no Novo Testamento. Nem ser tentado a imaginar, que com o decorrer do tempo em épocas diferentes a contagem teria sido diferente. Não temos argumentos para contrariar a forma de contar os anos de vida dos personagens bíblicos nos quatro mil anos que decorreram entre Adão e Jesus, usando dois pesos ou duas medidas. Vamos encontrar na Bíblia personagens que viveram muito e personagens que viveram pouco.

Já vi, argumento do tipo que dizia que no mínimo a idade dos personagens bíblicos deveria ser dividida por dez. Simplesmente um engano e uma contradição. Se assim o fosse, como ficaríamos no texto em que Sara esposa de Abraão é considerada velha para ter um filho? Vejamos: Sara tinha noventa anos e foi considerada velha (Gn 17:17). Perfeito. Se dividíssemos a sua idade por dez, ela teria nove anos. Nove anos! Simplesmente uma criança e não uma velha. Logo, concluímos que Sara tinha a idade que a Bíblia relata. E ela era de idade avançada mesmo. Ela tinha noventa anos. Abrimos aqui um parêntese, para dizermos que não estamos questionando a sua capacidade de gerar um filho aos noventa anos. Deus em sua soberania o prometeu e o cumpriu. Ora, o que Sara imaginou ser impossível, Deus o fez possível e ela deu à luz a Isaque  Estamos questionando apenas a idéia de dividirem-se as idades por dez, o que é absolutamente inconsistente. No mesmo texto, lemos que Abraão contava com cem anos. Se dividíssemos a sua idade por dez, acharíamos 10 anos. Logo, Abraão seria uma criança e não um ancião como foi a sua alegação na oportunidade.    

Recentemente, a mídia divulgou, que na Índia, uma senhora de setenta e dois anos de idade deu à luz a um filho e estava passando bem. Ora, já se passaram dezenas e dezenas de séculos depois de Sara, no entanto vemos uma anciã procriando. Isso só corrobora para reforçar os argumentos de que não era impossível termos homens vivendo tantos anos e mulheres procriando a semelhança do que lemos nos textos bíblicos.    

No presente século, muitas e muitas pessoas viveram e estão vivendo acima dos cem anos de idade. Isto significa quase quinze por cento to tempo de vida para os personagens bíblicos, que viveram em torno de novecentos anos. O que é compreensível, partindo-se do ponto de vista de que houve perda da qualidade de vida motivada por doenças, maus hábitos alimentares, vícios, etc. Através dos séculos que nos separam dos homens centenários. Quero dizer que através dos séculos os homens diminuíram vertiginosamente o seu tempo de vida. Houve épocas como na idade média que este tempo de vida foi ainda menor, por causa de guerras, conflitos, doenças etc. Hoje já se fala em uma maior expectativa de vida em decorrência da busca incessante da ciência por qualidade de vida que possa resultar em maior tempo de existência do homem, ao que se tem chamado de longevidade. Recentemente, a mídia divulgou que os cientistas chegaram à conclusão de que é possível ao homem chegar a viver em torno de duzentos anos, desde que conte  com condições favoráveis desde o início de suas vidas. Obedecendo a determinados padrões de qualidade de vida etc. Esta possibilidade em nossos dias guarda coerência com a existência centenária de vida que foi possível ao homem nos primórdios.  

Nos Salmos 90:10 Davi diz: - “A duração da nossa vida é de setenta anos; e se alguns, pela sua robustez, chegam há oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado; pois passa rapidamente, e nós voamos sobre a idade do homem.”. Isto há cerca de  quatro mil anos. Na verdade não mudou muito através dos séculos até nossos dias, estamos mais ou menos na mesma situação a partir do escrito de Davi.

A forma de contar os anos guardou coerência entre as informações constante nos textos e em livros bíblicos diferentes.

Em Gn 5:3. Temos que: -  “Adão [viveu] cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.

Em Gn 5:5 “Todos os dias que Adão [viveu] foram novecentos e trinta anos; e morreu.”

Em Gn 5:6 “Sete [viveu] cento e cinco anos, e gerou a Enos”. Sendo que: “Todos os dias de Sete foram novecentos e doze anos; e [morreu]” (Gn 5:8).

Em Gn 5:9 “Enos [viveu] noventa anos, e gerou a Quenã”, sendo que:” [Viveu] Enos, depois que gerou a Quenã, oitocentos e quinze anos; e gerou filhos e filhas. Gn 5:11 “Todos os dias de Enos foram novecentos e cinco anos; e [morreu]”.

Em Gn 5:12 “Quenã [viveu] setenta anos, e gerou a Maalalel. Sendo que: “Todos os dias de Quenã foram novecentos e dez anos; e [morreu]” (Gn 5:14).

Em Gn 5:15 “Maalalel [viveu] sessenta e cinco anos, e gerou a Jarede. Sendo que: “Todos os dias de Maalalel foram oitocentos e noventa e cinco anos; e [morreu]”, (Gn 5:17).

Em Gn 5:18 “Jarede [viveu] cento e sessenta e dois anos, e gerou a Enoque”. Sendo que: “Todos os dias de Jarede foram novecentos e sessenta e dois anos; e [morreu]”. (Gn 5:20)

Em Gn 5:21 “Enoque [viveu] sessenta e cinco anos, e gerou a Matusalém

Em Gn 5:22 “Andou Enoque com Deus; e, depois que gerou a Matusalém, viveu trezentos anos; e teve filhos e filhas”.

Em Gn 5:23 “Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos”. A Bíblia não diz que este homem morreu. Mas, diz que ele andou com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si (Gn 5:24). Por isso no meio desta genealogia em que todos estavam vivendo acima de novecentos anos, Enoque viveu cerca de um terço da idade dos demais, porque Deus para si o tomou e ele não morreu. Em continuação, temos:  

Em Gn 5:25 “Matusalém [viveu] cento e oitenta e sete anos, e gerou a Lameque”. Sendo que: “Todos os dias de Matusalém foram novecentos e sessenta e nove anos; e [morreu]” (Gn 5:27).

Em Gn 5:28 “Lameque [viveu] cento e oitenta e dois anos, e gerou um filho.”
Em Gn 5:31 “Todos os dias de Lameque foram setecentos e setenta e sete anos; e [morreu].

Em Gn 9:29 “E foram todos os dias de Noé novecentos e cinqüenta anos; e [morreu]”.

A partir daqui o texto suspendeu o relato de “...e foram todos os dias...”, por isso não teremos o total dos anos de vida dos personagens seguintes, a saber:

Em Gn 11:11 “E [viveu] Sem, depois que gerou a Arfaxade, quinhentos anos; e gerou filhos e filhas”.

Gn 11:12 Arfaxade [viveu] trinta e cinco anos, e gerou a Selá.

Gn 11:14 Selá [viveu] trinta anos, e gerou a Eber.

Gn 11:16 Eber [viveu] trinta e quatro anos, e gerou a Pelegue.

Gn 11:18 Pelegue [viveu] trinta anos, e gerou a Reú.

Gn 11:20 Reú [viveu] trinta e dois anos, e gerou a Serugue.

Gn 11:22 Serugue [viveu] trinta anos, e gerou a Naor.

Gn 11:24 Naor [viveu] vinte e nove anos, e gerou a Tera.

Gn 11:26 Tera [viveu] setenta anos, e gerou a Abrão, a Naor e a Harã.

A seguir o texto bíblico passou a descrever novamente o total de anos vivido pelos personagens, que passou  a ser bem menor que os anteriores, assim:

Em Gn 11:32 “Foram os dias de Tera duzentos e cinco anos; e [morreu] Tera em Harã.”

Em Gn 25.7 “Estes, pois, são os dias dos anos da vida de Abraão, que ele [viveu]: cento e setenta e, cinco anos.”

Depois que gerou a Isaque, Abraão viveu mais 75 anos.

Gn 47:28 “E Jacó [viveu] na terra do Egito dezessete anos; de modo que os dias de Jacó, os anos da sua vida, foram cento e quarenta e sete anos.”

Gn 50:26 “Assim [morreu] José, tendo cento e dez anos de idade; e o embalsamaram e o puseram num caixão no Egito”.

Números 33:39 “E Arão tinha cento e vinte e três anos de idade, quando [morreu] no monte Hor.”

Deuteronômio 34:7 “Tinha Moisés cento e vinte anos quando [morreu]; não se lhe escurecera a vista, nem se lhe fugira o vigor.”

Josué 24:29 “Depois destas coisas Josué, filho de Num, servo do Senhor, [morreu], tendo cento e dez anos de idade;”

Nesta genealogia, apresentada nos livros mencionados, os anos das idades de existência dos personagens bíblicos, decresceram através dos séculos. Assim, Matusalém, um dos primeiros na genealogia viveu novecentos e sessenta e nove anos (Gn 5:27).

A partir do dilúvio a expectativa de vida dos personagens caiu para menos que duzentos anos. Noé foi o último a viver mais de novecentos anos.

Pelo exposto não podemos atribuir interpretações diferentes para o tempo de existência dos personagens bíblicos. É o Gênesis que narra às idades acima de novecentos anos. É no Gênesis que Sara tem noventa anos quando engravida tendo Abraão cem anos. É no Gênesis que os descendentes de Noé passam a viver menos de duzentos anos. Na verdade, mais próximo de cem anos do que de duzentos propriamente ditos. Nas narrativas dos cinco Livros da Lei ou Pentateuco, constatamos coerentemente que os homens tiveram literalmente os anos de vida que a Bíblia diz ter. Não poderíamos jamais dar interpretações diferentes para a forma de contar os anos, quer pareçam muito ou pouco e jamais dividi-los para adequá-los a nossa cosmovisão atual.

Pelos dados dos últimos textos mencionados, as idades dos personagens já se achavam bastantes próximas das que vimos em nossos dias: José, Arão, Moisés e Josué  viveram entre cento e dez e cento e vinte e três anos.

O último relato bíblico a cerca da idade total de um de seus personagens é a de Josué que viveu cento e dez anos (Josué 24:29). A partir daí é omitido este tipo de informação no restante dos livros tanto no Antigo, como no Novo Testamento.

Há muitas outras passagens a respeito de tempos em anos mencionados no Antigo Testamento, mormente com relação aos tempos de governo dos Reis e outros, que não seria necessário recorrerem para reforçar o nosso argumento, porque chegaríamos às mesmas conclusões. Os tempos relativos às idades dos personagens bíblicos são ricos em informações e relatos que foram suficientes para darmos luz ao assunto. Para tanto, bastou à observância da genealogia dos primeiros personagens e a coerência com as demais citações dentro da Bíblia, principalmente no Antigo Testamento.

Fonte: Augusto Bello de Souza Filho - Bacharel em Teologia

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pais Maus


Um dia, quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva um pai, hei de dizer-lhes:
-Amei-vos o suficiente para ter insistido que juntassem o vosso dinheiro e comprassem uma bicicleta, mesmo que eu tivesse possibilidades de comprá-la.
- Amei-vos o suficiente para ter ficado em pé junto de vós, duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto – trabalho que eu teria realizado em quinze minutos.
-Amei-vos o suficiente para vos obrigar a pagar o doce que “tiraram” da mercearia e dizer ao dono: eu roubei isto ontem e hoje queria pagar.
- Amei-vos o suficiente para ter ficado em silêncio, para vos deixar descobrir que o vosso amigo não era boa companhia.
- Amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas ações, mesmo quando as penalizações eram tão duras que me partiam o coração.
- Amei-vos o suficiente para vos ter perguntado: aonde vão com quem vão e a que horas regressam a casa.
- Amei-vos o suficiente para vos deixar ver fúria, desapontamento e lágrimas nos meus olhos.
Mas, acima de tudo eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando sabia que me iriam odiar por isso.
Estou contente. Venci, porque no final vocês também venceram. E qualquer dia, quando os vossos filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva os pais, vocês irão dizer-lhes, quando eles perguntarem, se os vossos pais eram maus, que sim, que eram os piores pais do mundo, por que:
- Enquanto os outros miúdos comiam doces ao pequeno almoço, nós tínhamos que comer cereais, tortas e ovos.
Os outros miúdos bebiam Coca ao almoço e comiam batatas fritas, enquanto nós tínhamos que comer sopas, comida e frutas. E não vã acreditar! Os nossos pais obrigavam-nos a jantar a mesa, o que era bem diferente dos outros pais.
- Os nossos pais insistiam em saber onde nós estávamos há todas as horas, era quase uma prisão. Tinham que saber quem eram os nossos amigos e o que fazíamos com eles.
 Insistiam em que lhes disséssemos que íamos sair mesmo que demorássemos só uma hora, ou menos.
- Nos tínhamos vergonha de admitir, mas eles violaram uma data de leis do trabalho infantil, nós tínhamos que fazer as camas, lavar a louça, aprender a cozinhar, aspirar ao chão, lavar a nossa roupa, ir despejar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. Eu acho que eles nem dormiam, a pensar em mais coisas para nos mandar fazer.
- Eles insistiam conosco para que lhes disséssemos a verdade, apenas toda a verdade, sempre a verdade.
- Na altura de nossa adolescência eles conseguiam ler os nossos pensamentos o que tornava a vida menos chata.
- Os nossos pais não deixavam os nossos amigos buzinarem para nós sairmos de casa. Tinham que sair do carro, bater à porta, para que eles os conhecessem.
- Enquanto toda a gente podia sair com doze ou treze anos, nós tivemos que esperar pelos dezessete anos. - Por causa dos nossos pais, nós perdemos experiências fundamentais da adolescência: nenhum de nós esteve alguma vez envolvido em atos de vandalismo, em roubos, violação de propriedade, nem preso por algum crime.
Foi tudo por causa deles.
Agora que já saímos de casa, somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos “MAUS PAIS”, tais como os nossos pais o foram.
Creio que este é um dos males do mundo de hoje: Não há “MAUS PAIS” o suficiente.

Fonte: Dr. Carlos Hecktheuer- médico psiquiatra